SEMANA SANTA (ENDOENÇAS) Padre Vitor Melicias

Tal com tinha prometido à alguns dias a traz, vou publicar de forma mais ou menos regular até à Pascoa fotos e textos sobre a Endoenças de Safara, e começo por publicar um texto escrito por o Padre Vítor Melicias que acompanha estas festas hà mais de 40 anos.

Há bem quarenta anos que tenho sido pregador regular das prestigiadas festas de Safara, ou seja das celebrações litúrgicas e paralitúrgicas dos três últimos dias da semana santa, também chamados Tributo Sacro ou das indulgências, palavra que por evolução linguística deu origem à trdicional e bem consagrada designação de Endoenças.

Pelo profundo sentido de religiosidade popular e a vasta participação do povo Safarense, estas bonitas celebrações, restauradas nos anos 60 do século passado, tornaram-se já há muito ex-libris desta simpática e acolhedora terra do coração do alentejo, no concelho de Moura, atraindo tambem forasteiros das comunidades vizinhas, de um lado e outro da fronteira.

Na sua simplicidade, comparadas com as grandes solenidades da Semana Santa de Sevilha ou mesmo da nossa Braga dos farricocos, as festas de Safara não deixam de ser um precioso testemunho da fé e da cultura populares, herdadas do passado mas que mantém toda a força catequética e de evocação de valores de que o homem moderno não pode prescindir.

O canto plangente e de enorme riqueza cultural da Verónica ( que o imaginário popular transformou em simpática "padroeira" do povo ) bem como o grito da Madalena e o choro cantado das três Marias com figuras veneradas de Nicodemos e José de Arimateia, ecoando na noite ao som ritmado das matracas, só iluminados pelos archotes brandidos pela miudagem do lugar, calam fundo na alma da gente como convite aos sentimentos bons da piedade, da misericórdia e da solidariedade humana e divina.

E é por tudo isso que Safara pode orgulhar-se das suas festa, dos seus antepassados e de todos aqueles que no presente tanto se sacrificam para que Safara e Endoenças sejam, por tempos sem fim, numa só realidade, palavras que não passam uma sem a outra. Bem haja contribuir para isso.
À gloria e Cristo e e a bem do povo de Safara.

Padre Vítor Melicias, OFM